Fotógrafo | Paulo Pinto / paulopinto74.blogspot.com |
Tirado de | 2018-10-4/7 |
Categorias | WRC |
Evento | Rali do País de Gales |
Sub-evento | Campeonato do Mundo de Ralis |
Pista | País de Gales |
PEC: Clocaenog
PEC: Slate Mountain
PEC: Penmachno
PEC: Sweet Lamb
PEC: Great Orme Llandudno
© 2018 Copyright Paulo Pinto
Uma Aventura em Gales, na passagem do WRC...
Num dia chuvoso eu e um grupo de amigos reunimos-nos numa sessão de testes para o Rali de Portugal algures num troço para os lados de Mondim de Bastos, uma equipa do Mundial de Ralis fazia-nos as delicias com as suas passagens e alguém teve a ideia de nos aventurarmos para um destino desconhecido para nós mas não do calendário do Mundial de Ralis, e foi assim já com bastante lama chapada na roupa.
Lá concordamos com a grande ideia de embarcar-mos na tal viagem a uma das paragens mais conhecidas do WRC.
Todos ficaram muito alegres, eufóricos da maluqueira em conjunto que ficou combinada ali em pleno lamaçal de um antigo troço do Rally de Portugal.
-"Este ano vamos ao Rali do País de Gales"!
Bom! O que é bonito neste mundo, e anima, é ver várias passagens de sonho ficarem ali enterradas naquela terra e nos deixar a sonhar outra aventura... A paixão pelos Ralis, iria transformar-se numa grande quantidade de ilusões, em verdadeiros paliativo para a alma.
Queremos esse Rally mítico, vivê-lo com adrenalina. Cores, sabores, sons, cheiros, calor, frio e emoção a 1000 voltz., aventura e até um pouco de perigo.
Conversamos muito ao longo das semanas ou melhor ao longo das provas de Rali a onde nos reunia-mos...Viagem marcada para o dia 3 de Outubro. Incrível! Passados alguns meses e finalmente chegou o grande dia, as malas no carro e estávamos todos ansiosos. Obter todo conhecimento possível e divertirmos... Lá fomos nós.
Depois de começarmos a voar pelos céus de Portugal num belo dia de sol, finalmente chegamos ás ilhas britânicas, deixamos de ver terra para voar sobre um manto branco de nuvens. Aterramos no aeroporto de Manchester e nosso primeiro foco foi dar uma volta pelo centro daquela cidade do Reino Unido, impressionados pela arquitectura de um bar pitoresco "William Shakespeare" a onde bebemos uma daquelas cervejas que os britânicos gostam. Afinal, "Nem tudo que reluz é ouro." as palavras são do poeta dramaturgo mas as saudades do sabor da cerveja portuguesa são minhas. Na despedida não podíamos deixar de ir ao estádio Old Trafford Anfield mais conhecido como o "teatro dos sonhos" para o futebol, o estádio do Manschester United equipa treinada pelo antigo Campeão Europeu do FC Porto, José Mourinho.
Finalmente atravessamos a "fronteira" e chegamos á terra de dragões, castelos do Rei Arthur, rúgby e dos postais para a minha coleção de papel reciclado de cocô de ovelha!
Um país que nos surpreendeu pela sua organização, beleza e estrutura turística. Chegamos a casa já no final do dia, um lugar sinonimo de descanso no meio de montes verdejantes nunca vi tão verde na vida com centenas de ovelhas. Dizem que a população de ovelhas no país é quatro vezes maior do que o número de pessoas.
Viajamos pelas margens do norte na faixa litoral de muitos quilómetros de extensão de uma beleza cativante que se desenvolve fortemente baseada no turismo, explorando as belezas do mar.
Entre prados verdes e desfiladeiros que alberga povoações medievais com centros históricos transformados em museus a céu aberto, notáveis construções históricas, casas típicas com longos telhados inclinados de cores escuras a contrastar com o branco das casas, as pousadas e hotéis requintados e ruas muito bonitas e, para nosso gáudio no meio de tamanhas montanhas verdes e outras de cascalho lá aparecia um castelo cheio de história para nos deslumbrar. E assim, de repente como se estivéssemos no século XVI. Uma luz um castelo um bar e gentileza que nos enche os olhos e o coração!
Aqui chove muito mas nós nem nos podemos queixar do tempo. Em quase todos os dias, tivemos as quatro estações num só dia! Aliás, quem mora no Reino Unido aprende logo que não se pode confiar muito na previsão do tempo.
Um impermeável torna-se indispensável na mochila. Sair de casa cedo pela noite quase sempre com chuvisco e chegar ainda noite escura aos troços, para nos deslocar para ao ponto a onde programamos estar é necessário levar lanterna e seguir pelos trilhos do bosque ou sempre que possível pelo troço, no meio do escuro da neblina lá éramos brindados com um "morning" ou somente "morn" pelos simpáticos e divertidos Marshals.
Antes disso, e logo à entrada do parque de estacionamento separa-se as águas de quem é adepto de ralis, daqueles quem vêm apenas pelo espírito da fama da prova, beber, fumar droga e incomodar toda agente desde Marshals, fotógrafos acreditados ao público. Pois aqui paga-se bilhete para assistir aos troços entre 20£ a 30£, para quem segue a prova é mais vantajoso adquirir o Rally Pass por 115€.
Para um adepto comum português é caro, mas tendo em conta os factores que descrevi atrás, fiquei defensor da opinião que na nossa prova deveria ser a pagar e assim fazia-se logo a triagem e quem quer a continuidade da prova ou somente vem para estragar de quem tantas vezes ameaçou a nossa prova... Nem se atreviam.
Por outro lado mesmo não havendo "cercas" denominadas de Zona Espetáculo, também não há imagens de grandes aglomerados de público em forma de estádio. Este público que assiste, diverte-se e discute a passagem e desempenho dos pilotos mas assiste sem se manifestar muito (como quem vai assistir a uma peça de Shakespeare).
Como vivemos num mundo maravilhoso que é cheio de beleza e o Rali habita nele, estes encantos e aventuras aqui nada fica ao acaso, WC impecáveis á entrada dos troços e contentores para o lixo. Ao contrário do Rally de Portugal a onde ficam toneladas de lixo, garrafas e latas cerveja espalhadas por todo o lado, aqui há um cuidado exemplar de não deixar lixo nos bosques e mesmo o pouco que ficou tem sido altamente repudiado pelos defensores da floresta, os britânicos não deixam lixo nem cervejas no chão mas todos nós bem sabemos quem deixou...
As classificativas são espetaculares entre bosques, idênticas ás nossas mas com um piso de cascalho mais resistente à água parece nunca se degradar por mais passagens que façam. Classificativas a que assistimos nos bosques como Clocaenog, Elsi, Penmachno no Parque Nacional de Snowdonia com as montanha mais alta de Gales, com paisagens deslumbrantes e pitorescas vilas galesas. Á pedreira de cascalho de Slate Mountain e aqui foi a única classificativa que tivemos chuva e nevoeiro a sério.
Para estar nestas condições mais difíceis que não são de todo estranhas a quem anda nisto á muito tempo, ainda assim é necessário espírito de aventura, coragem, perseverança e claro muita paixão.
Chegados á classificativa mítica de Sweet Lamb Hafren que está para o mundo dos ralis como o nosso Fafe / Lameirinha. Classificativa de perder de vista a rasgar entre a cor verde carregada, com lombas, "ganchos"a subir colado a outro a descer muito ao estilo de uma pista de motocross, lagos e um traçado fantástico que convida ao espetáculo. Um verdadeiro parque de diversões para um adepto de ralis, diria mais um regalo á vista e muita diversão para quem anda lá dentro.
Tirando a classificativa do "Vinho do Porto" entre Sabrosa e Cheires do saudoso e longínquo Rally de Portugal de 80 e 81 este é provavelmente o troço mais bonito a que já assisti desde então.
Esta prova não poderia terminar sem a cereja no topo do bolo! A classificativa de Great Orme Llandudno, conduzir na prateleira em asfalto a aproveitar até os passeios no limiar do risco, á beira de precipícios de cortar a respiração até ao mar. É obra!!!
Llanduno uma cidade costeira fantástica, virada para o mar da Irlanda, com eléctrico e teleférico para a montanha que acredito que seja de neve no inverno. Cenário perfeito!
Nós, encantados com as pessoas e com todo aquele paraíso em nosso redor, acenávamos a todos, e eles retribuíam o gesto. Não existe estar frente a frente com essa cultura e não comparar com a nossa vida. A simplicidade é evidente.
Foi um Rali incrível quer a nível competitivo com um desfecho inesperado quanto ao vencedor e no final foi Sebastien Ogier a saborear o sabor da champanhe, a cultura dos atentos Marschals impressionaram-nos porque estão ali sempre dispostos para nos ajudar e nunca para complicar. Não me lembro de ver autoridades policiais ao longo dos troços e isto já por si diz muito de toda a experiência acumulada desta organização. A segurança é geralmente uma superstição. Ela não existe nesta natureza.
No regresso a Manchester e com muita pena nossa devido a um acidente que atrasou a segunda passagem da prova não podemos visitar a terra dos Beatles, e os quatro loucos aventureiros já não poderiam atravessar a famosa passadeira de Liverpool, fomos antes a cidade romana de Chester, com as suas ruas de paralelepípedo, edifícios de estilo Tudor e bonitas vistas.
Para mim, foram cinco dias perfeitos com essa combinação de cidades, campo e Rally. Passar os dias nas classificativas de Wales, entrar num bar típico Galés com ambiente familiar, ser recebido em festa por vir ao Wales Rally GB, por ser português e no dia seguinte voltar caminhar pelas montanhas. O que mais poderia querer?
Que viajar é das melhores coisas do mundo e uma das que nos traz mais felicidade para toda a vida, isso nós já sabíamos. Talvez o que nem todas as pessoas saibam é que, uma das razões por que isso acontece, são as amizades em viagem. Quando falo nestas amizades, não falo só das que fazemos durante o percurso, mas também das que fortalecemos com os amigos que já trazíamos de trás.
O melhor das viagens, mais do que os lugares por onde passamos, são as pessoas que partilham connosco esses momentos e que fazem dessas viagens memórias para a vida. Juntos, fazemos com que sejam inesquecíveis.
Agora deixo para vocês um caloroso Croeso i Gymru (“Bem-vindo ao País de Gales”, em galês).
Foto do grupo com a bandeira do País de Gales.
Abraço a todos,
Paulo Pinto
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